Marçal Aquino


A esperança é o pior dos venenos


               Cauby, um fotógrafo pouco convencional resolve morar em uma cidade do Pará em que o garimpo reina no coração dos moradores que jamais perdem a esperança de encontrar uma pedra que salve o que resta de suas vidas miseráveis. Diante desse cenário, há conflitos entre pessoas importantes, que estipulam suas próprias leis. Nosso fotógrafo, pouco se importa com tais problemas, ainda mais quando conhece Lavínia. Uma mulher que ao longo da trama se transforma em outras. Ela é a mulher recatada do pastor Ernani, que ao tornar-se Shirley (nome atribuído por Cauby para sua outra personalidade) emana uma energia cheia de desejo e seduz quem quer. Nem Cauby consegue se esquivar de tal encanto. Sofre com os altos temperamentos dessa mulher que explode de amores em um dia e no outro se porta como uma virgem intocável. O que ambos tem em comum? A atração avassaladora e a paixão pela fotografia.

               A história segue e conhecemos diversos personagens curiosos. Viktor Laurance, um homem intelectual, que apesar de não gostar de socializar muito adora saber sobre todas as novidades da cidade, o careca que conta um pouco da sua historia de amor mal sucedida que tentou viver,Chang, colega fotógrafo de Cauby.

               Mas o que mais encanta na história é a forma como ela é contada. Não parece um romance convencional, está mais para uma prosa poética, a começar pelo título do livro, que é pura poesia. E no primeiro capítulo, intitulado O amor é sexualmente transmissível, quando Cauby se apaixona por Lavínia e nos deixa ansiosos diante da urgência que ele tem por ela, percebemos a intensidade do casal. Depois a história esfria um pouquinho em relação a paixão entre eles, porém continua a sensação de perigo que permeia as histórias que enlaçam com as dos protagonistas.

Eu afundaria todos os navios nesta noite, Lavínia. Incendiaria o porto. Só para ver o brilho das chamas refletido nos seus olhos escuros.

               Interessante que Marçal de Aquino sempre cita ao longo da prosa o professor  B. Schianberg, autor do livro preferido de Cauby, livro do qual não existe. Isso mesmo, temos um livro que é citado, O amor segundo  B. Schianberg do qual foi invenção do autor. Essas citações lembram um pouco Freud e ganhou até um filme nacional, diante do exposto no livro. Esse professor fictício tem opiniões bem formadas a respeito dos relacionamentos, Cauby sempre usa algum trecho do livro para explicar seus momentos com Lavínia.

De acordo com o professor  Schianberg, o desejo de se apossar por completo do outro é uma das doenças mais comuns do amor. É o resfriado das moléstias amorosas, segundo ele. O problema, Schianberg escreveu, é permitir que se transforme em gripe crônica. Costuma ser letal.

               Além do livro do professor Shianberg, Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios também conta com uma reprodução cinematográfica, da qual a bela Camila Pitanga encena Lavínia. Claro que ler o livro sempre faz com que nossa alma se delicie mais, mas após a leitura, vale ver a história da perspectiva de Brant e Ciasca.


Publicado por Companhia das Letras
229 páginas
Ano 2005


Um Comentário

  1. Nossa que legal! Amei a resenha e fiquei morrendo de curiosidade para ler esse livro.

    Parabéns, muito bom.

    ResponderExcluir

Ola divirta-se fica a vontade sua opinião é muito importante para nossa equipe
bjks até a proxima. *-*

Topo